2010-04-25

SESSÃO COMEMORATIVA DO 25 DE ABRIL Intervenção da Deputada Heloísa Apolónia

Sr. Presidente da República Sr. Presidente da Assembleia da República Sr. Primeiro-Ministro e demais membros do Governo Sr. Presidente do Tribunal Constitucional Srs. Presidentes dos Supremos Tribunais Sras. e Srs. Deputados
Srs. Capitães de Abril, a quem foi, é e será sempre devida uma palavra de gratidão pelo que fizeram no dia 25 de Abril de 1974.
No dia em que concretizaram o sonho de um povo inteiro, que ansiava por ser livre das amarras daquela que acabou por ser uma ditadura de quase meio século.
Foram tantas mulheres e tantos homens que dedicaram a sua vida a lutar contra um poder fascista que roubava direitos básicos, que impunha pobreza, que tinha como objectivo formar um povo ignorante e fragilizado, que manipulava formas e conteúdos de expressão, que vigiava e perseguia, que usava prisão política e tortura e morte, que condenava os jovens deste país à guerra, onde tantos deixaram de ter futuro.
Foi isto que Salazar ofereceu ao seu país e a que Marcelo Caetano deu continuidade. É por isso que nos deve perturbar tanto a forma como, com o passar dos anos, valendo-se de um pretenso esquecimento dos horrores que o fascismo concretizou, alguns tentam branquear a imagem e a acção de um ditador como era Salazar. É por isso que importa repetir até à exaustão que Salazar foi um ditador fascista, que humilhou o povo deste país, que lhe roubou dignidade, que atrasou Portugal.
Foram os jovens capitães de Abril, numa organização exemplar e inteligente, sustentados na razão, no desejo e na necessidade de um povo inteiro que fizeram a revolução, a ruptura definitiva… nem mais um dia de ditadura, o povo era livre, estava com o MFA e o MFA com o povo. A prova de que sempre que se age com o povo e para o povo, age-se pela justiça.
É o símbolo dessa revolução, o cravo, que hoje trazemos ao peito. O cravo, a arma da revolução de Abril. O símbolo que aquele famoso cartaz que assinalou o 25 de Abril de 1974 tão bem retratou – uma criança descalça e de roupas rotas, marcava a diferença do seu futuro colocando um cravo vermelho no topo de uma espingarda vertical, que não era preciso disparar. Ary dos Santos contou-o tão bem: “Depois da fome, da guerra /da prisão e da tortura / vi abrir-se a minha terra / como um cravo de ternura.” Era o futuro de paz e de esperança que se abria. Estamos no futuro de então. Passaram 36 anos.
Minhas Senhoras e meus Senhores,O 25 de Abril abriu a porta deste país para uma grandiosa e fascinante oportunidade de progresso e de desenvolvimento, cujos direitos e instrumentos foram consubstanciados na Constituição da República Portuguesa, em 1976, tendo em vista a construção de um país livre, mais justo e mais fraterno.
Uma das Constituições mais avançadas em termos de direitos, porque ela dita, por exemplo, assim: todos têm direito ao trabalho e para isso o Estado tem que executar políticas de pleno emprego e promover a segurança no emprego; todos têm direito à protecção da saúde e por isso o Estado tem que garantir uma eficiente cobertura médica e hospitalar de todo o país; todos têm direito a uma habitação condigna, garantindo-se uma adequada rede de transportes e de equipamentos sociais envolventes; todos têm direito a um ambiente de vida humana sadio e ecologicamente equilibrado, determinando a Constituição que a prevenção e o controlo da poluição é a forma de o assegurar; todos têm direito à educação e à cultura e por isso ao Estado compete estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino; e é ao sistema fiscal que compete a justa e igualitária repartição da riqueza.
Alguém, que defenda uma sociedade fraterna, solidária, de dignificação das pessoas, terá a coragem de dizer que quaisquer destes princípios fundamentais enunciados na nossa Constituição são injustos? Que são descabidos? Que são inapropriados? Que se deve prescindir deles? Certamente que não.
Mas perguntemos, agora, de outra forma: estes princípios fundamentais enunciados na nossa Constituição estão concretizados, ou estão a ser concretizados? Também certamente que não.
O que falha, então? Se não nos faltam excelentes princípios orientadores da nossa formação social, o que tem falhado é uma vontade e uma determinação política, na concretização destes objectivos, por parte de quem se tem alternado durante estas décadas no poder. Esta é a resposta óbvia e evidente, por mais que a procurem negar.
O que está mal são as políticas que se têm consolidado e os maus resultados que têm produzido são visíveis para toda a gente (dos números assustadores do desemprego, à generalização da precariedade do trabalho, à privatização de sectores fundamentais ao desenvolvimento, como a energia ou os transportes, sempre com prejuízo para os consumidores, à permissão de negócios que delapidam o nosso património natural com prejuízos imensos para o ambiente e ao desperdício de oportunidades para o desenvolvimento das regiões, designadamente do interior do país, ao definhamento de sectores produtivos fundamentais para a dinamização do mundo rural e para a nossa autonomia alimentar, até à própria discriminação das mulheres no mundo do trabalho, ainda persistente, entre tantos outros exemplos que se poderiam aqui dar).
Ora, o que os Verdes julgam é que só a ânsia de continuar essas más políticas sem obstáculos à frente é que pode justificar a descabida proposta de reformulação ou de revisão da Constituição. Como se o problema do país fosse a Constituição! Não, ela é o suporte dos nossos direitos básicos, do nosso sistema democrático, é o que nos vai garantindo uma subsistência social e também um sistema político que gera pluripartidarismo nos órgãos representativos das populações, o que é determinante para a democracia.
Sem a nossa Constituição seria muito mais simples gerar um quadro político que tornasse mais fácil implementar a lei da selva ao nível de políticas económicas, sociais e também ambientais, gerando injustiças mais e mais gritantes. A quem nos quer, então, tornar menos democráticos, retirando-nos a preciosa Constituição que temos, restringindo a representação dos cidadãos ou retirando direitos às pessoas, ou alienando todo o nosso património colectivo, nós dizemos não, claro – diremos sempre não! E diremos sempre sim, ao aprofundamento da nossa democracia, à concretização de direitos, à consagração de mais direitos, a um Estado responsável, à aplicação da nossa Constituição.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,Há democracias e democracias. É que as democracias não se medem só pelo direito de votar. Medem-se também pela eficácia da prevenção e do combate a fenómenos tão cruéis para a sociedade, como a corrupção, com a qual somos confrontados vezes de mais. E medem-se pelo resultado das políticas que são executadas e do que daí se proporciona em termos de oportunidades e de garantia de qualidade de vida para os cidadãos.
E uma das provas mais cabais do estado fragilizado da nossa democracia é esta tendência de nos quererem convencer que os direitos das pessoas passaram a ser privilégios. O direito à educação é um privilégio, por isso pagam-se propinas, o acesso a unidades de saúde é um privilégio, por isso pagam-se taxas moderadoras, encarece-se o preço dos medicamentos e encerram-se serviços de saúde, porque o Estado não paga privilégios; o direito ao trabalho agora é um privilégio e por isso incita-se à aceitação da exploração nos horários e nos salários e até da ingerência da vida privada, se não perde-se o emprego; toma-se o subsídio de desemprego como um privilégio, tomam-se as reformas como um privilégio. Enfim, querem meter-nos na cabeça que os direitos elementares dos cidadãos, são privilégios muito injustos e aos poucos vão cortando a sua acessibilidade!
Mas curiosamente os verdadeiros privilegiados deste país continuam com os seus, esses sim, reais privilégios intocáveis, os quais, diga-se em abono da verdade, saem bem caro ao Estado: o sistema financeiro a gerar lucros enormes, mesmo em tempo de crise, e a pagar menos impostos do que qualquer micro, pequena ou média empresa, há fortunas imensas que não são tributadas, os grandes grupos económicos com os seus grandes quadros e administradores a receber quantias exorbitantes, incluindo empresas onde o Estado tem uma forte participação. O que os Verdes consideram é que isto é de tal forma insustentável, inaceitável e fragilizador da nossa democracia, que tem que ter uma resposta adequada.
Pergunta-se, então: precisamos de um novo 25 de Abril? Não, não é isso que está em causa. O que precisamos é de retomar urgentemente o nosso 25 de Abril, as suas conquistas, os seus direitos, a sua determinação, a sua certeza de querer construir uma sociedade solidária.
Se há coisa que o 25 de Abril demonstrou é que o povo português não é um povo resignado. Não vale a pena construírem-nos inevitabilidades, porque é certo e sabido que há sempre outros caminhos por onde optar, e é certo e sabido que os caminhos que nos têm feito percorrer não são aqueles que nos gerarão a felicidade, o bem-estar, a qualidade de vida, o desenvolvimento harmonioso e equilibrado com que Abril nos fez sonhar. E como nos lembrou António Gedeão, sonhar não é utopia, sonhar é pôr o mundo a avançar.
Então, que viva, mais e mais, o 25 de Abril.

2010-04-06

HOJE - POR INICIATIVA DE “OS VERDES”DULCE PÁSSARO NA COMISSÃO DE AMBIENTE FOI OUVIDA SOBRE BARRAGENS


Hoje, por iniciativa de “Os Verdes”, a Ministra do Ambiente foi à Comissão Parlamentar de Ambiente e Ordenamento do Território para responder sobre o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNB). Surpreendentemente, constataram o quanto a Sr. Ministra do Ambiente desconhece o Programa, tendo a Ministra afirmado que a Barragem do Fridão tem um sistema de reversibilidade (bombagem de água a jusante utilizando energia eólica para potenciar a produção de energia hidroeléctrica), o que não corresponde ao projecto em discussão pública.


“Os Verdes”, que têm contestado o PNB desde a sua apresentação, por considerarem ter elevados impactos negativos e trazer um contributo energético reduzido para o país, confrontaram Dulce Pássaro com diversas matérias, dando destaque às seguintes questões:

• Os impactos negativos deste Programa para a biodiversidade

• A degradação e privatização dos recursos hídricos

• A deficiência dos estudos de impacto ambiental, nomeadamente a estratégia de avaliação de impacto da qual o Governo se serve para a decisão política, que suportaram a aprovação do PNB

• O suposto desenvolvimento que estas barragens trarão às regiões afectadas

Relativamente ao primeiro assunto, a Deputada Heloísa Apolónia considerou que “no Ano Internacional da Biodiversidade, o PNB será um verdadeiro atentado contra a biodiversidade”. A Deputada ecologista considerou mesmo que, depois da betonização do litoral, da PAC e da eucaliptização desgarrada do país, esta será a 4ª grande operação de chacina da biodiversidade que contribuirá para deixar o país mais pobre, o interior mais despovoado e mais desertificado.

“Os Verdes” acusaram ainda o Governo de ter tomado estas decisões sem que os estudos de impacto estivessem devidamente aprofundados o que levou “Os Verdes” a apresentar na Assembleia da República uma proposta de suspensão do Programa Nacional de Barragens.

Como exemplos dos impactos inegáveis e das lacunas nos estudos, a Deputada relembrou que a declaração de impacto ambiental favorável, dada à Barragem do Tua pelo anterior Ministro do Ambiente, exige a realização, a posteriori, de 50 estudos e medidas das quais 20 são relativos aos impactos sobre a biodiversidade. Relembrou também que a avaliação estratégica ambiental do Programa não analisou um conjunto de impactos cumulativos, nomeadamente sobre a biodiversidade, sobre a retenção de inertes e sobre a degradação da qualidade da água nos rios afectados e muito especialmente na Bacia do Douro, onde se localizam 6 das novas barragens.

“Os Verdes” consideraram ainda que o PNB torna evidente que as alterações introduzidas na Lei-quadro da Água visavam a entrega da gestão dos recursos hídricos a interesses privados e não a melhoria da qualidade da água, tal como o PS apregoava na altura.

“Os Verdes” contrariaram ainda o suposto desenvolvimento que as barragens, segundo a Ministra, vão trazer às regiões de implementação, referindo exemplos como o encerramento da Linha do Tua e as suas implicações no aumento do despovoamento, a submersão de perto de duas centenas de casas de habitação e de inúmeras parcelas agrícolas cultivadas, com as 5 barragens no Tâmega. Da experiência actual do país, a Deputada considerou que se pode concluir exactamente o contrário: o Douro, com as suas inúmeras barragens, não necessitaria de uma Estrutura de Missão que tem como objectivo promover o desenvolvimento da região e a Região Norte, região que mais contribui para a produção hidroeléctrica do país, não seria considerada uma das menos desenvolvidas da Europa.

“Os Verdes” consideram que esta sua iniciativa parlamentar foi positiva pois obrigou o Governo a responder sobre uma matéria que, considerando de interesse nacional, nunca trouxe, por sua iniciativa, a debate parlamentar e também porque ficou o compromisso da Ministra em entregar, finalmente, aos Deputados a resposta dada à Comissão Europeia no quadro da inspecção sobre o PNB, informação solicitada há muito pelo Grupo Parlamentar “Os Verdes”.

06 de Abril de 2010
O Gabinete de Imprensa de “Os Verdes”